Na dobra da esquina, de repente ela surge: vem tomando um sorvete num desfile sem fim… O que você faz aqui? Eu não pude esperar. E arranca da bolsa papel e caneta, os coloca em minhas mãos e propõe me beijar. Mas ainda não, e vem a condição: primeiro você me escreve um poema. Eu olho pra ela e ela nem pisca. Tudo ali soa sério e convencional. Enquanto eu sofro com o calor e a caneta, é o sorvete quem toma o que era pra mim. Não resisto ao impulso e vou de encontro a uma brecha. Ela desvia a tempo, me sujando a bochecha. Eu enceno algum drama, o sorvete escorrendo, então ela me sorve até o cantinho da boca. E o meu poema? ela ainda me cobra. O poema eu trazia já composto de casa.

► E o ônibus?

► E o poema?